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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A infância dos nossos filhos não volta


Ser mãe é padecer no paraíso, dizem. Ou apodrecer, como diz uma amiga minha.
O que importa é que ser mãe, e pai, é fazer sacrifícios, sim. Sejam eles de natureza financeira, sejam eles de natureza pessoal. É abrir mão de bastante coisa e, mais no caso da mãe, abrir mão de si mesma muitas vezes.

Li um texto semana passada com o qual me identifiquei muito, escrito pelo médico pediatra José Martins Filho, ele começa assim:

Será que todos os seres humanos precisam ser pais? Não sei. Cuidar bem de uma criança, além de ser de sumária importância, dá um trabalho danado. Crianças choram à noite, nem sempre dormem bem, precisam de cuidados especiais, de limpeza, de banho, alimentação, ser educadas e acompanhadas até a idade adulta. E, principalmente: crianças precisam da presença dos pais, sobretudo as menores, que requerem a mãe na maior parte de seu tempo. Não é dando dois beijinhos pela manhã antes de ir para a creche, ou colocando a criança para dormir à noite, que será possível transmitir segurança, afeto e tranquilidade. Escuto muito a seguinte frase: “Doutor, o que interessa é a qualidade do tempo junto e não a quantidade”. Duvido. Diga ao seu chefe que você vai trabalhar apenas meia hora por dia, mas com muita qualidade. Certamente ele não vai gostar. Seu filho também não. 

Qualidade, claro, importa. Mas nos primeiros anos de vida do seu filho, em especial o primeiro ano, quantidade também importa muito. É uma ilusão pensar diferente, na minha humilde opinião.

Vivemos numa época em que valores antigos são cada vez mais questionados. Um deles é essa coisa da maternidade. Toda mulher tem que ser mãe? Acho que não. Muitas não querem e acabam sendo por diversos fatores: pressão social; impossibilidade de fazer um aborto seguro numa gravidez não planejada; por não ter acesso a métodos anticoncepcionais e atendimento médico adequado; ignorância; por aí vai.

Algumas acabam amando o papel de mãe, outras não. Demorei pra ter filhos porque eu queria oferecer certas condições que quando mais jovem eu não tinha. Queria poder ficar sem trabalhar um tempo pra acompanhar ao menos o primeiro ano da minha filha bem de pertinho. Queria estar casada com alguém que fosse ser um bom companheiro e ótimo pai. As coisas deram certo, estou vivendo isso que era um desejo meu há muito tempo, não que todos os dias sejam um mar de rosas, mas poder ver de pertinho, na hora que as coisas acontecem, o desenvolvimento da minha filha, não tem preço.

Eu sei que nem todo mundo pode largar o trabalho. Não acho que a pessoa, em especial a mulher, deva fazer isso. Sou feminista (daquelas que chamam de chata e mal comida), acho que a mulher consegue, dentro do possível, conciliar muitas coisas, mas acho também que a pessoa deve fazer essas escolhas de maneira bem consciente, e não ficar depois se sentindo culpada e agredida pelas amigas que optam por ficar em casa com os filhos. Também acho que aquelas que ficam em casa com os filhos igualmente não devem se sentir agredidas pelas que trabalham, e muito menos culpadas por terem deixado a carreira um pouco (ou totalmente) de lado.

Detesto essa coisa chamada mommy wars (guerra de mães). Mulheres adoram competir entre si, em vez de se ajudarem e apoiarem as escolhas umas das outras. O importante é que sejam reais escolhas, porque a infância dos nossos filhos não volta, assim como a nossa juventude também vai embora. Eu optei por ficar em casa com a minha pequena, porque acho importante acompanhar todos os passinhos dela (inclusive os que ela ainda não deu).

Volta e meia lemos notícias de pais que maltratam os filhos e nos perguntamos: por que essa pessoa teve filhos em primeiro lugar? Tem gente que odeia crianças e tem filhos. Podem vir me dizer que "ah, mas ela ama a criança dela". Não me desce. Eu sempre amei crianças porque elas representam um mundo de infinitas e belas possibilidades. Não me desce essa gente que até um mês atrás tava reclamando do barulho do filho do vizinho e depois virou mãe exemplar.

Vejo muitas das minhas amigas optando conscientemente por não ter filhos. Não é o desejo delas, e eu acho ótimo. Só tem que ter filhos quem realmente deseja tê-los, quem está disposto a ficar sem dormir, sem comer, sem tomar banho ou escovar os dentes direito. Quem está a fim de não sair mais de noite porque o bebê precisa dormir no seu horário certo. Quem entende que a vida de mãe é cheia de alegrias e beleza e também muito medo, incerteza e apreensão. Não acho que é egoísmo não querer ser mãe. Acho que é saudável.

Então se você optou por ser mãe ou pai, pense a respeito disso. Não dedique só momentos de qualidade para o seu filho (até por que, o que é qualidade, afinal?), mas tente dedicar também bastante quantidade. Não vai ser só o seu filho que ficará feliz, você também.

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